“Negócio de sexo com grávidas” em Portugal: o que é mito, o que é real
Nos últimos tempos, várias manchetes chamaram a atenção para um alegado aumento do negócio de sexo com grávidas em Portugal
As notícias sugerem que este seria um mercado “altamente lucrativo”, com procura crescente e valores elevados. Mas será isto verdade? Nesta análise reunimos informação oficial, contexto, factos e mitos para perceber o que realmente está a acontecer.
O que está a ser dito nos media?
Alguns órgãos de comunicação social divulgaram que o fetiche por grávidas estaria “em alta” no mercado da prostituição. Certos artigos chegaram a afirmar que algumas mulheres grávidas estariam a faturar “milhares de euros por dia”.
Contudo, estas informações não são acompanhadas de dados oficiais, estudos académicos ou relatórios públicos. São relatos isolados, sem estatística verificável que permita confirmar a alegada dimensão do fenómeno.
O que dizem os relatórios oficiais?
As entidades responsáveis por acompanhar a exploração sexual e o tráfico de seres humanos em Portugal, como o OTSH, a CIG e a APAV, publicam relatórios anuais detalhados.
E o que estes relatórios mostram?
Não existe qualquer categoria oficial que identifique “exploração sexual de grávidas” ou “mercado de sexo com grávidas”.
Há, de facto, aumento global da exploração sexual e do tráfico, especialmente associado a vulnerabilidade económica, coação e recrutamento online.
As autoridades não confirmam a existência de um mercado lucrativo específico relacionado com grávidas.
Casos envolvendo grávidas aparecem apenas de forma isolada, nunca como tendência estatística ou fenómeno crescente.
Conclusão destas fontes: o suposto “mercado de sexo com grávidas” não é reconhecido como fenómeno estruturado ou crescente.
Porque este tema viralizou?
A combinação de sensacionalismo, tabu social e curiosidade pública ajuda a explicar por que motivo estas notícias se tornaram virais.
Razões principais:
Títulos chocantes geram cliques — e a combinação “gravidez + sexo + dinheiro” chama a atenção.
Casos isolados transformam-se facilmente em generalizações quando falta investigação séria.
O tema da prostituição em Portugal ainda tem pouca investigação académica, o que deixa espaço para especulação.
A exploração sexual é um fenómeno real e crescente — e isso torna o público mais sensível a qualquer notícia relacionada.
O que é real: a exploração sexual em Portugal está a aumentar
Embora o “negócio de sexo com grávidas” não esteja documentado como fenómeno, a exploração sexual em Portugal é uma realidade crescente, especialmente dentro de redes de tráfico.
As tendências reais incluem:
aumento de vítimas sinalizadas de tráfico sexual,
uso crescente de plataformas digitais para aliciamento,
maior vulnerabilidade de mulheres com dificuldades económicas,
casos de vítimas grávidas dentro de contextos de exploração, mas não como um fetiche lucrativo estruturado.
Portanto, a exploração existe e preocupa — mas não nos moldes sensacionalistas divulgados.
Mito vs Realidade
Mito: existe um mercado gigantesco de sexo com grávidas altamente lucrativo.
Realidade: não há dados oficiais que confirmem este mercado. Existem apenas notícias sem fontes verificáveis.
Mito: o aumento da procura está “documentado”.
Realidade: nenhuma entidade pública identifica tal “tendência” nos relatórios.
Mito: mulheres grávidas faturam milhares de euros por dia regularmente.
Realidade: são alegações não comprovadas e não suportadas por estudos ou estatísticas.
Porque é importante esclarecer este tema
A desinformação sobre prostituição pode:
distorcer a perceção pública,
prejudicar mulheres em situação vulnerável,
criar estigmas,
desviar atenção dos problemas reais: tráfico, exploração, violência e falta de proteção social.
Informar com rigor é essencial para combater a exploração e apoiar verdadeiramente as vítimas.
Conclusão: o fenómeno, tal como divulgado, não é comprovado
Até ao momento, não existe prova objetiva de que o “negócio de sexo com grávidas” esteja a crescer ou seja “um dos mais lucrativos” em Portugal.
O que existe é:
exploração sexual real e preocupante,
aumento de tráfico e vulnerabilidade,
casos isolados envolvendo grávidas,
e muito sensacionalismo mediático sem base estatística.
A discussão sobre exploração sexual precisa de responsabilidade — e de informação rigorosa.